Investigação

GECAD participa em projeto para desenvolver novo mercado energético com fontes renováveis
26-10-2020

O GECAD, grupo de investigação do ISEP, integra o projeto TradeRES, financiado pelo programa H2020 da Comissão Europeia, para o desenvolvimento de um design inovador de mercado com um sistema de energia quase 100% renovável.

Os modelos de mercado tradicionais, nomeadamente ao nível de mercado grossista, onde se transaciona a maior parte da energia elétrica, foram desenhados há várias décadas e mantêm-se praticamente estáticos.

Nestes mercados, as ofertas de compra e venda de energia são feitas com um dia de antecedência, o que torna impossível compreender estimativas realistas da geração que vai existir no dia seguinte. Isto leva ao desperdício de uma enorme parte da geração proveniente de fontes de energia renovável.

Este desperdício tem impacto a vários níveis. "A nível ambiental, estamos a desperdiçar energia renovável, e apesar de termos as fontes de geração instaladas, temos de continuar a recorrer a fontes poluentes. A nível de investimento, o retorno é muito menor, uma vez que apenas uma parte da geração acaba por ser vendida, o que se reflete nas faturas energéticas dos consumidores finais que pagam taxas adicionais para cobrir estes investimentos e a sua falta de retorno.

Por fim, tem impacto nos preços de energia para todos os consumidores. Uma vez que as fontes de geração renovável têm custo de geração nulo, por não terem custos com matéria prima, as ofertas de venda de energia proveniente destas fontes são, normalmente, colocadas a custo zero, o que significa uma redução do preço de energia no mercado, e, por conseguinte, nas faturas de todos nós. Isto permite um melhor aproveitamento da energia renovável e o preço da energia desce automaticamente", explica Tiago Pinto, investigador do GECAD.

O modelo de mercado desenvolvido neste projeto aborda diferentes níveis de mercado, como o continental (europeu), regional (por exemplo, o ibérico), e local, com interação entre estes, desenhando novas formas de garantir o aproveitamento completo da energia renovável e incentivando o seu uso.

Para tal, algumas das sugestões centram-se no "encurtamento do horizonte das ofertas em mercado (de um dia de antecedência para apenas alguns minutos), a redução da dimensão dos períodos de negociação (de períodos horários para minutos) e a incorporação de modelos que permitem lidar com as incertezas da geração e a sua variabilidade (e.g. ofertas probabilísticas e adaptáveis)".

O envolvimento ativo dos consumidores é uma das mais valias. Pretende-se fornecer incentivos aos consumidores, como por exemplo, através de pagamentos diretos ou redução dos seus custos com a compra de energia, para permitir a flexibilidade do consumo. Desta forma, será possível alterar dinamicamente os padrões típicos de consumo, para que o próprio consumo vá de encontro às variações da energia renovável (incentivar maior consumo quando há mais geração e redução de consumo quando a geração renovável variável é mais baixa).