O ISEP, através do GRAQ-REQUIMTE (Grupo de Reação e Análises Químicas), lidera o projeto REWATER – Sustainable and Safe Water Management in Agriculture (em português, “Gestão sustentável e segura da água na agricultura”). O objetivo deste projeto europeu passa por garantir a qualidade da água tratada nas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), de forma a possibilitar a sua reutilização, de forma segura, na agricultura.
A água, um recurso vital, tem sofrido pressões crescentes com a intensificação da atividade industrial e as alterações climáticas, entre outras, que resultam na diminuição da sua disponibilidade e qualidade. O tratamento das águas residuais revela-se, assim, crucial para a sua reutilização, uma vez que promove a remoção das substâncias indesejadas. No entanto, existem micropoluentes, como alguns pesticidas e fármacos, que não são eficientemente removidos pelas tecnologias existentes nas ETAR. Deste modo, torna-se premente desenvolver inovações tecnológicas e abordagens integradas que permitam a sua remoção com elevados níveis de eficácia, sendo neste âmbito que o REWATER pretende fazer a diferença.
O projeto surgiu, inicialmente, como resposta do GRAQ a um repto lançado pelo Water JPI para apresentação de trabalhos de investigação no domínio da gestão sustentável dos recursos hídricos nos setores agrícola, florestal e de aquacultura de água doce. A proposta do grupo do ISEP não só foi aceite, como apresenta um leque muito mais abrangente de soluções, longe de se restringir apenas ao setor agrícola. “O nosso objetivo ao focarmo-nos em micropoluentes (pesticidas e fármacos) assenta na sua remoção eficaz e ecológica, e a sua quantificação usando sensores, que constituem uma solução mais rápida e barata de monitorização. Por outro lado, queremos alertar para os efeitos negativos que estes micropoluentes podem ter nos ecossistemas”, explicam Manuela Correia e Hendrikus Nouws, investigadores do GRAQ e docentes do ISEP.
Entre os fármacos estudados encontram-se alguns de utilização muito frequente, tais como analgésicos e antidepressivos, que são muitas vezes detetados (embora em concentrações baixas) em águas residuais, quer na sua forma original quer como produtos de degradação/metabolitos. Uma das preocupações da equipa de investigação vai no sentido de se aplicarem processos de tratamentos terciários inovadores. “Neste contexto, serão explorados processos físico-químicos, nomeadamente processos de oxidação avançada (eletro-Fenton) e biológicos, usando microalgas e fungos. Por eletro-Fenton entende-se uma tecnologia híbrida que combina reações eletroquímicas e reagente de Fenton para degradação de compostos orgânicos refratários”, acrescentam Sónia Figueiredo e Olga Matos de Freitas, também investigadoras do GRAQ.
Este projeto tem uma abordagem multifacetada, envolvendo tarefas de: 1) monitorização dos micropoluentes em águas residuais; 2) desenvolvimento de sensores para deteção/quantificação dos referidos micropoluentes; 3) desenvolvimento de tecnologias de tratamento terciário inovadoras; 4) avaliação da ecotoxicidade das águas tratadas; 5) aplicação à escala piloto das ferramentas anteriormente desenvolvidas em duas ETAR, uma em Portugal e outra na Roménia. Esta abordagem integrada permitirá reduzir substancialmente, ou mesmo eliminar, a entrada de micropoluentes no meio hídrico, possibilitando, assim, o seu reaproveitamento.
Os trabalhos do projeto REWATER prolongar-se-ão até março de 2020 e são liderados pelo GRAQ-REQUIMTE, com a Professora Cristina Delerue-Matos a assumir o papel de coordenação, contando ainda com a participação de oito parceiros, num total de 33 investigadores: CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental) e AdCL – Águas do Centro Litoral, S.A., de Portugal; Universidade de Vigo e Universidade de Oviedo, de Espanha; CUP (Focsani Public Utilities Company) e Universidade de Bacau, da Roménia; Universidade de Kristianstad e a Universidade Sueca de Ciências Agrícolas (SLU), da Suécia. O projeto tem um orçamento global superior a 500 mil euros, sendo as entidades financiadoras a FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), FORMAS (Suécia) e UEFISCDI (Roménia).