Paula Tulha Moutinho tem 43 anos, é do Porto, e trabalha por todo o mundo. Formou-se em Engenharia Geotécnica no ISEP e continuou os estudos com um mestrado na Universidade de Delft, na Holanda. O seu plano era permanecer apenas dois anos, que se estenderam para 11, pois começou a trabalhar numa multinacional holandesa. Mais tarde, fez as malas para o Rio de Janeiro para participar num projeto para a Petrobras e chefiar o Departamento de Engenharia na Fugro Geotecnia Marinha. Em 2017 integrou a Benthic, empresa na vanguarda das investigações de leito marinho, onde atualmente é Lead Geotechnical Engineer. Paula regressou recentemente a Portugal, mas o seu trabalho continua a não conhecer limites geográficos.
- Como surgiu o interesse pela Engenharia?
Desde criança que sempre gostei de fazer construções… em lego, na praia, origami, com plasticina. E sempre que ia com os meus pais de férias para as montanhas, gostava de apanhar diferentes tipos de pedras… tinha uma coleção imensa!
- Porque escolheu estudar no ISEP?
Na verdade, queria Engenharia Geológica, mas na altura não havia no Porto (apenas na Universidade Nova de Lisboa). Na hora de escolher, soube da possibilidade de Geotecnia no ISEP.
- Recorda-se de algum professor ou colega específico durante o seu percurso no ISEP?
O engenheiro Pinto Coelho nas disciplinas relacionadas com Mecânica dos Solos, o professor José Carvalho em Levantamentos Geológicos, com quem ainda tive o prazer de trabalhar durante a minha curta carreira como engenheira geotécnica, em Portugal. E, por último, a doutora Manuela Carvalho numa disciplina relacionada com Instrumentação e Investigação Geotécnica, que eu adorei e me levou a seguir o ramo da Geotecnia que escolhi.
- Que conhecimentos e experiências levou do ISEP para o mundo profissional?
O ensino universitário português, pelo menos na minha época, tinha uma base teórica muito forte, o que foi uma mais valia quando fui tirar o meu mestrado em Engenharia Geológica na Universidade de Delft, na Holanda. Tive professores que ficaram impressionados com os meus conhecimentos em mecânica dos solos, o que foi um elogio enorme e uma motivação extra, sendo a Holanda um país na vanguarda da engenharia de solos!
- O que é que a motiva e mais valoriza no seu trabalho?
Motiva-me imenso a tecnologia envolvida na recolha das amostras e ensaios in-situ (CPTs, BPTs, T-bar, colocação de piezometros e sísmica) uma vez que é tudo robotizado e podemos ver em tempo real o que o PROD (o nome do nosso robot) está a fazer. Uma vez que a Benthic está na vanguarda destes sistemas de investigação geotécnica de leito marinho, é um prazer e uma motivação imensa fazer parte desta empresa. O que mais valorizo são mesmo todos os meus colegas! Trabalhar com uma equipa diversificada, não só de diferentes ramos da engenharia, mas, principalmente, de outras culturas, é uma mais valia incomparável. Todos os dias aprendo algo novo!
- Em entrevista à revista Notícias Magazine (2019), referiu que se não fosse Engenheira seria hospedeira de bordo. Como surgiu esta paixão por viajar?
Acho que devo ter uma pequena parte do sangue dos antigos descobridores portugueses que partiram por esse mundo fora! Desde pequena que sempre gostei de viajar... Até a viagem de três a quatro horas do Porto até à vila onde viviam os meus avós no Douro era maravilhosa! Ser hospedeira de bordo era uma forma de viajar. No entanto, troquei o avião pelo barco que, ao contrário das antigas naus e caravelas, tem navegação por satélite, internet e nunca faltam os vegetais e a fruta fresca!
- Já visitou e viveu em diferentes países. Qual o seu preferido?
Já visitei muitos países nos quatro cantos do mundo! Com toda a certeza mais de 50! É muito difícil escolher o meu preferido… Claro que gostei mais de uns do que outros, mas voltaria, com toda a certeza, à India, Itália e à maravilhosa Holanda, onde deixei muitos e bons amigos. Vivi na Holanda e no Brasil. Adorei viver no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, da qual guardo memorias incríveis e foi onde nasceu a minha filha. Agora vivo novamente em Portugal que não troco por país nenhum.
- Que países ainda estão por visitar?
Adorava visitar o Japão, a Tailandia e Vietnam. São os próximos na minha lista. Se agora tivesse de sair de Portugal para viver com a minha família, a escolha seria a Austrália. Mas como já mencionei, vivo no melhor país do mundo. Para quê mudar?
- O que mais gosta de fazer nos tempos livres?
Como passo grandes temporadas (normalmente 4 semanas seguidas) fora de casa, o que mais gosto de fazer nos tempos livres é mesmo estar com a minha família e aproveitar ao máximo os momentos em que estamos juntos. E também aproveitar viajarmos!
- Que palavra a melhor descreve?
Perseverança.
- Se pudesse mudar alguma coisa no mundo...?
Alguns dos seus governantes!
- Que mensagem gostava de deixar aos futuros engenheiros do ISEP?
Muitas vezes o início da vida profissional não é aquilo que nos esperávamos. O importante é nunca desistir do que queremos, apesar de desilusões que possam ir aparecendo. E os nossos interesses e sonhos vão também mudando, por isso não tenham medo da mudança. Quando se fecha uma porta, algures vai abrir uma janela.... é mais difícil entrar pela janela, mas com algum esforço extra consegue-se tudo! Aprendi esta frase com um monge budista vietnamita!