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NanoClean afirma aposta do GRAQ na produção de nanopartículas ‘verdes’
27-07-2016

O Grupo de Reação e Análises Químicas (GRAQ) do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) tem-se notabilizado em várias temáticas, sobretudo na área da remediação dos solos. Neste sentido, apostou no desenvolvimento do NanoClean, projeto inovador que visou, essencialmente, a produção de nanopartículas de ferro zero valente através de um processo ‘verde’.

Este projeto ganha particular relevância devido ao facto de a monitorização dos fármacos estar em crescimento. Isto porque, frequentemente têm sido encontrados no ambiente, sendo suscetíveis de causarem efeitos ecotoxicológicos em espécies de diferentes níveis tróficos. Como tal, os fármacos são considerados poluentes emergentes, não existindo ainda regulamentação que determine os valores máximos admissíveis em águas e em solos. É, por isso, necessário continuar a encontrar soluções.

Assim, o NanoClean – que beneficiou de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) pretendeu dar resposta a algumas destas preocupações. Durante 30 meses, os investigadores envolvidos debruçaram-se sobre a produção e aplicação de nanopartículas de ferro zero valente, objetivando a descontaminação e redução do impacto dos fármacos no meio ambiente. De facto, a grande novidade assenta na utilização de um procedimento de produção ‘verde’, partindo-se de diversos materiais naturais.

“Uma das preocupações que temos passa pela garantia de que o processo, além de simples e economicamente viável, assegura que a toxicidade dos produtos da degradação dos fármacos é a menor possível. Com esta nova tecnologia que desenvolvemos para a produção de nanopartículas ‘verdes’ utilizamos resíduos como, por exemplo, cascas de laranjas, resíduos de atividades industriais [como a água de cozimento da cortiça] ou folhas de árvores. Assim, a nossa principal ideia era valorizar resíduos agroflorestais, para produzir as nanopartículas”, descreve a investigadora do GRAQ e docente do ISEP, Cristina Delerue-Matos.

Atualmente, e fruto dos resultados obtidos com o NanoClean, o grupo de investigação do ISEP está a colaborar com outros parceiros incluindo uma empresa portuguesa que trabalha com nanopartículas de ferro zerovalente importadas. Está a ser realizado um estudo, com o intuito de ser feita uma comparação entre as nanopartículas verdes e as comerciais, uma vez que as primeiras são naturais e as outras sintéticas. Além disso, o NanoClean está a suscitar também a atenção da Associação Portuguesa do Ambiente (APA).

Assim, o balanço final é muito positivo, havendo intenções claras de se continuar a apostar no estudo da remediação dos solos, recorrendo a novas técnicas e para fazer face a outros poluentes. Na verdade, este projeto surgiu numa linha de evolução, “sendo a continuação de um anterior e seguramente o mote para o que vem a seguir”, destaca Cristina Matos. “A integração do GRAQ/ISEP na rede NICOLE – fórum líder na Europa sobre contaminação de solos – permite uma atualização constante das preocupações científicas debatidas fora de portas”, afirma, por sua vez, o investigador do GRAQ e Técnico Superior do ISEP, Tomás Albergaria.

Numa perspetiva futura, a docente Cristina Delerue-Matos considera que emerge, assim, um novo roteiro de investigação: “Agora, os nanomateriais estão muito em voga, mas carecem da existência de estudos e legislação própria. Como têm propriedades muito próprias, interessa saber se comportam ou não riscos para a saúde. Há um longo caminho a percorrer. Portanto, eis uma área na qual estamos preocupados e também queremos contribuir.”