Investigação

Quando o poder da mente define o estado de saúde ou doença
15-05-2019

Não é novidade que o corpo humano materializa e transforma o stress em doenças e, por outro lado, que as práticas que serenam a mente apresentam benefícios comprovados na saúde. No entanto, não há ainda um entendimento claro sobre a forma como se processa esta relação direta entre a mente e a saúde ou doença.

Na ligação entre mente e corpo, existem mensageiros que funcionam como uma espécie de emails entre células, levando-lhes informação que consigam entender e traduzir. Os exossomas estão entre as várias formas de comunicação celular, podendo, efetivamente, estar implicados nesta relação entre a mente e a saúde/doença.

Perceber esta ligação poderá trazer inúmeros benefícios, já que será possível implementar estratégias eficazes de prevenção da doença, evitando que esta aconteça ou se agrave através de estratégias simples, como a meditação.

É este o foco do MindGAP, o novo projeto coordenado pelo ISEP, através do grupo de investigação BioMark, que pretende identificar as alterações nestes mensageiros que estão relacionadas com a doença ou a saúde. Esta informação poderá depois ser usada para detetar e monitorizar doenças de uma forma muito precoce, sem precedentes.

“A mente consegue alterar o nosso estado de saúde. E é precisamente esta ligação entre a mente e a capacidade de regeneração do corpo que vamos estudar. Os exossomas são o nosso principal foco, já que têm a habilidade de transportar mensagens recebidas por células periféricas. Ao identificar qual a carga nos exossomas que está associada à saúde e à doença, além de outras moléculas, achamos que vamos conseguir perceber se o paciente está no caminho da saúde ou da doença. É um novo paradigma na saúde”, explica Goreti Sales, investigadora do BioMark e coordenadora do projeto.

O MindGAP terá uma duração de quatro anos onde serão observados vários grupos e testadas abordagens de meditação, de forma a esclarecer esta relação inevitável e a melhor forma de promover a saúde através de uma prática simples e sem custos.

Serão envolvidos doentes selecionados pelo IPO-Porto, no contexto do cancro da mama, da próstata e colo-retal, e que terminaram o seu tratamento, mas que continuam sob vigilância do hospital. “O grupo de doentes será convidado a praticar meditação controlada e será avaliado do ponto de vista fisiológico. Através de análises ao sangue, vamos perceber que exossomas têm e como estes vão variando ao longo do tempo e dos processos de meditação, percebendo, assim, como a mente altera estes mensageiros e a sua relação com a saúde/doença”, acrescenta.

No final do projeto, será possível identificar as características fundamentais que variam entre um paciente com meditação e sem meditação e registar quais as condições em que as pessoas poderão optar por práticas de meditação para ajudar a reestabelecer a sua saúde.

Uma vez identificado qual o elemento chave nesta comunicação, o BioMark vai desenvolver um dispositivo portátil para rastrear exossomas e o seu conteúdo, possibilitando que cada pessoa possa relacionar esta informação com o seu próprio estado de saúde e promover uma atitude pró-ativa contra a doença.

O projeto arrancou em abril de 2019 e pertence à call europeia FET-OPEN (Future and Emerging Technologies), do pilar da excelência científica, sendo financiado entre 375 propostas. No total, estão envolvidas cinco equipas de investigação, incluindo Portugal (ISEP e IPO-Porto), Suécia (Universidade de Linnaeus) e Finlândia (VTT e Universidade de Oulu), com um orçamento de 4,4 milhões de euros.