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Entrevista com Luís Miguel Durão
21-11-2017

Luís Miguel Durão, após um percurso no mundo industrial, enveredou pelo ensino e é docente no ISEP há quase 18 anos. Destacou-se pela coordenação do CIDEM, mas também pela Direção da Licenciatura em Engenharia Mecânica. No seu entender, é preciso o rejuvenescimento do corpo docente e continuar a apostar na internacionalização, bem como na investigação.

- Quando entrou no ISEP?

A primeira vez que vim ao ISEP era ainda um adolescente. Na altura, vinha de motorizada para ver uns filmes sobre corridas de automóveis que a Associação de Estudantes exibia. Era o tempo da paixão. Mais tarde, em 2000, entrei como Professor Assistente no Departamento de Engenharia Mecânica (DEM), vindo de uma experiência industrial de 14 anos. Era o tempo da razão.

- E como recorda os seus primeiros tempos?

Gostei da forma como fui recebido pelos colegas, ou seja, senti um bom ambiente. De resto, o que posso dizer é que foi para mim um desafio ter que voltar a estudar para ensinar.

- Quer falar da sua experiência no mundo industrial?

O meu primeiro emprego foi em 1985, como diretor industrial numa empresa onde era o único engenheiro. Portanto, tinha que fazer um bocadinho de tudo, desde as funções óbvias de coordenação da parte produtiva até ao auxílio no carregamento de camiões. Após o serviço militar obrigatório, decidi procurar empresas de maior dimensão, pelo que acabei por chefiar o Gabinete de Estudos e Projetos na Companhia Portuguesa do Cobre. Depois, fui trabalhar para uma multinacional – a PREH –, onde comecei a sentir o despertar da vontade em partilhar os meus conhecimentos com os estudantes.

- Atualmente, o que mais o fascina naquilo que faz?

A possibilidade ímpar que temos de transformar os estudantes, com a sua natural irreverência da juventude, em profissionais competentes e aptos para responder às solicitações do mercado de trabalho. Afinal, os estudantes de hoje são os engenheiros de amanhã. Tal facto, leva-nos a uma atitude de abertura que potencia a predisposição para estarmos sempre a aprender.

- Que feitos gostaria de destacar no seu percurso como docente?

O Doutoramento porque era um objetivo pessoal, mesmo antes de entrar no ISEP. De facto, passados dois anos da minha entrada na instituição, tive a oportunidade de usufruir de uma bolsa PRODEP para realizar o Doutoramento. A este nível devo realçar o total apoio das pessoas que na altura lideravam o DEM. Depois, o rumo que o meu percurso levou já não foi tão planeado. Em 2007, assumi a coordenação do CIDEM (Centro de Investigação e Desenvolvimento em Engenharia), no qual a avaliação de “Muito Bom” por parte da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) representou um salto positivo. Num cômputo externo, quero mencionar o facto de ter sido convidado em 2014 pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) para presidir à Comissão de Avaliação Externa para a área científica de Engenharia Mecânica do Ensino Politécnico, que durante esse ano avaliou os ciclos de estudo em funcionamento, a nível nacional. Com isso, tive a oportunidade de visitar 13 instituições, o que me deu um conhecimento diferente da realidade nacional a esse nível.

- Qual o balanço que faz da sua função como Diretor da Licenciatura em Engenharia Mecânica?

Após a minha experiência na A3ES, desafiaram-me a aceitar a Direção do curso de Licenciatura em Engenharia Mecânica (LEM). Como gosto de novos desafios, acabei por aceitar. Para além disso, achei que poderia tirar proveito da minha atividade anterior, ao colher o que de melhor observei noutras escolas. Entrei em 2015 para a função de diretor, desde então considero os seguintes aspetos como os mais positivos: a introdução dos estágios curriculares, que se realizaram pela primeira vez em 2016; o início da internacionalização com a criação de uma turma internacional lecionada exclusivamente em inglês; e a manutenção dos elevados níveis de procura que a LEM continua a registar. No entanto, há algumas ameaças em que nos devemos focar na procura de soluções: as dificuldades na consolidação da internacionalização; a elevada dimensão média das turmas e o reduzido número de estudantes nossos que aderem aos programas de mobilidade ERASMUS.

-Que aspetos diferenciam o ISEP das outras instituições de ensino?

A qualidade do ensino, traduzida no reconhecimento e na empregabilidade dos nossos diplomados, algo que assenta na dedicação e qualificação do corpo docente e também na proximidade com os nossos estudantes, sem esquecer a interação com a indústria e o meio empresarial que nos rodeia. Este cenário resulta da dedicação de todos os envolvidos, que abraçam o exercício das suas atividades diárias, incluindo, naturalmente, os funcionários. Há um trabalho que muitas vezes é invisível, mas essencial para que todos os dias o ISEP tenha as portas abertas e as condições necessárias para funcionar.

-Ideias para crescermos mais?

Mais importante que crescer é estarmos preparados para a adaptação à constante mudança num processo que deve envolver toda a escola. Realço a necessidade de se corrigir alguns desequilíbrios que estão bem identificados. Há que continuar a apostar na internacionalização e a acarinhar a investigação.

- Onde poderemos chegar daqui a uma década?

Em primeiro lugar, estaremos todos mais velhos (risos). Mas tal constatação levanta uma questão interessante: são necessárias propostas e ideias inovadoras ao nível do ensino, mas é preciso olharmos, com especial enfoque, para o rejuvenescimento do corpo docente. Julgo que deveriam ser criadas oportunidades para os nossos diplomados a esse nível. Noutro âmbito, o ISEP é já o melhor no Ensino Superior Politécnico, mas eu iria mais longe. Penso que não faz sentido o anacronismo dos dois subsistemas no Ensino Superior nacional. Num hipotético sistema unificado, acredito que teríamos capacidade para lidar com esse desafio e sermos dos melhores do País.

- Por último, e não menos importante, porque resolveu candidatar-se à Presidência do ISEP?

Satisfazendo a curiosidade das pessoas, acredito que posso contribuir, juntamente com a equipa que irá colaborar comigo, para o desenvolvimento do ISEP, que se pretende moderno, capaz de responder aos novos desafios, mas sempre valorizando o seu passado. Entendo que é o momento de empreender uma mudança, assente numa cultura de mérito e de reconhecimento do Instituto, que apoie a investigação e fomente uma intervenção ativa na comunidade envolvente. Acredito nos nossos estudantes e valorizo as suas capacidades, pelo que pretendo mobilizar e apoiar as suas atividades institucionais e o relacionamento com os ALUMNI. Creio na capacidade e dedicação dos funcionários do ISEP. Mas o mais importante aqui é o seguinte: vamos ser todos chamados a esta escolha – estudantes, docentes e funcionários. Temos em desenvolvimento um projeto que em breve iremos partilhar com a Escola. Pretendemos que nele sejam vertidas as ideias e as expectativas de toda a comunidade ISEP.