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ISEP analisa a “Cibersegurança”
02-12-2016
ISEP analisa a “Cibersegurança”

A conferência “Cibersegurança”, a terceira do ciclo “Engenharia em Movimento” de 2016, levou ao Auditório Magno do ISEP mais de 300 pessoas, no dia 28 de novembro, pelas 17 horas. O evento diferenciou-se pelo painel distinto, incluindo oradores dos setores empresarial, judicial e jurídico-político, oferecendo assim aos presentes uma análise transversal do tema.

O cibercrime é um domínio demasiado vasto e, por isso, suscetível de afetar o cidadão comum, empresas privadas e serviços públicos. A este nível destacou-se a intervenção do Inspetor da Polícia Judiciária (PJ), Alvim Braga, que enumerou alguns dos principais riscos da atualidade, nomeadamente: sextortion (forma de exploração sexual que usa métodos não físicos de coação); phishing (fraude online através da aquisição de dados pessoais e financeiros); spamming; randsomware (apropriação e bloqueio dos equipamentos dos utilizadores); entre outros.

Neste contexto, e sendo os perigos tão diversos, “este evento teve o condão de juntar áreas fundamentais, abrangendo um panorama mais geral”, salienta o moderador do debate e jornalista da RTP, Daniel Catalão. No seu entender, “é natural que os engenheiros acabem por discutir a cibersegurança sob o ponto de vista dos bitts, dos bytes e do algoritmo, não olhando para quem estão a trabalhar, ou seja para os comportamentos das pessoas, que são vitais para o desenvolvimento de soluções”, reforça. Todavia, a conferência conseguiu mesmo “fugir às questões estritamente técnicas”, acrescenta.

Desafios e medidas de prevenção ao nível da privacidade

“O grande desafio é pensar como nós hoje, em que grande parte da informação está em plataformas digitais, conseguimos proteger o cidadão comum daquilo que é a agregação e venda de dados, que tantas vezes condicionam a pessoa na sua liberdade e nas suas decisões presentes e futuras. Por outro lado, perceber também como é que no mundo digital, cuja memória não esquece ao contrário da humana, conseguimos conformar a nossa personalidade, exercer os nossos direitos e viver da experiência e do erro, sem estarmos tão limitados”, aponta o especialista em cibersegurança da empresa VisionWare, Rodrigo Adão da Fonseca.

De facto, existem certas ações que podem e fazem a diferença no domínio da privacidade e precaução de crimes na ciberesfera. Segundo Alvim Braga, “são mesmo pequenas coisas como, por exemplo, ter a webcam desligada ou mesmo tapada; utilizar passwords com a maior complexidade possível e alterá-las com frequência; há também o truque de se introduzir, pela primeira vez, a password errada de forma a conferirmos se estamos na página certa, sobretudo no caso do setor bancário”. O Inspetor da PJ deixa também o alerta: “Existem dados e vivências pessoais que devemos mantê-las, assim mesmo, no foro pessoal, ou então partilhá-las apenas com um grupo restrito de pessoas, sem que essas informações sejam veiculadas nas redes sociais ou num blogue.”

O cibercrime em Portugal e a transposição da normativa europeia

Na qualidade de deputado do Parlamento Europeu e advogado, Nuno Melo, enriqueceu o debate com a sua visão de decisor político e legislador. Durante a sua intervenção no Auditório Magno, abordou alguns pontos fulcrais como, por exemplo, o advento da Internet e a utilização para fins ilícitos por parte de alguns grupos terroristas como o autoproclamado Estado Islâmico. Além do terrorismo, que é claramente uma preocupação da União Europeia, falou da necessidade de se chegar a um entendimento estratégico generalizado.

Numa altura em que se fala da nova diretiva, que foi aprovada pela Comissão Europeia no verão passado, sobre segurança das redes e dos sistemas de informação (Network and Information Security – NIS, na sigla em inglês), o eurodeputado também falou sobre o assunto: “Parece-me que será de vantagem transposição da normativa para a legislação nacional, pelo que acredito que acontecerá naturalmente. Isto porque, sendo a Internet uma realidade à escala global, os riscos estão mais que diagnosticados e afetam todos os Estados. Assim, o combate do ponto de vista de quem tem função do Estado só é possível se decorrer de forma partilhada, não só pela UE, mas também pelo mundo inteiro.”

Por sua vez, e quando convidado a ‘diagnosticar’ o atual estado do cibercrime em Portugal – antes da eventual transposição da NIS (que se focará em serviços como saúde e transportes) –, o Inspetor da PJ rejeitou qualquer cenário de alarme. “Atualmente, está dentro de um patamar normal comparativamente a outros países, tendo a sua quota parte mais técnica e também a percentagem de negligência do cidadão.

“O ISEP pode estar na vanguarda deste assunto”

Na opinião de Nuno Melo, os domínios do cibercrime e da segurança, tanto na ótica da prevenção como de combate, podem ser um alvo de interesse bem-sucedido por parte do Instituto, visto que se trata de uma instituição de referência em engenharia. “O ISEP é um espaço de ensino, de ciência, de investigação e de tecnologia. Portanto, o ISEP pode e deve estar na vanguarda deste e doutros assuntos. Talvez, por isso, a sala estava tão composta e por gente interessada na matéria. Assim, desejo muitos anos de vida ao ISEP e com muitas descobertas”, declara.

O ciclo “Engenharia em Movimento”, organizado pelo ISEP, pretende ser um espaço de debate de assuntos importantes para o País, com especial enfoque na engenharia e com o objetivo de ajudar a desmistificar temas atuais e promover o desenvolvimento. Ao longo de seis edições, a instituição já acolheu mais de 1500 participantes, desde membros da comunidade académica, a representantes políticos e de empresas privadas.